Fundação da APG-UFS surge como um marco histórico diante da conjuntura sergipana e nacional

Composição da gestão da APG-UFS

Agora é pra valer! No último dia 15, em Assembleia Geral realizada a partir de conferência virtual, alunas e alunos de pós-graduação fundaram a Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos da Universidade Federal de Sergipe (APG-UFS).

Na ocasião, foi aprovado o estatuto e eleita a diretoria da entidade, composta por seis membros efetivos e seis adjuntos. A Assembleia Geral é resultado de uma mobilização que se iniciou em 2019, com estudantes de diversos programas de pós-graduação, que compartilham do entendimento de que é necessário fortalecer a representação estudantil na UFS bem como a própria defesa do ensino superior público.

Segundo Rosinadja Morato, representante discente do doutorado em Sociologia e integrante da APG, a fundação da APG representa a abertura de um espaço de articulação e partilha. “Sempre participei do movimento estudantil e acredito na importância da representatividade e da necessidade de um espaço de diálogo a partir das expectativas e necessidades dos alunos. A gente sente muita falta disso quando está na pós-graduação, os alunos ficam dispersos e essas questões ficam todas ao encargo dos programas, cada um com suas dinâmicas diversas. A chegada da APG, portanto, é a oportunidade de promover um espaço de acolhimento, discussão, esclarecimento, defesa de direitos e proposições de melhorias continuadas, sempre a partir de um contato com o público que efetivamente faz todos os programas de pós-graduação acontecerem e terem razão de ser: seus alunos”, defende Rosinadja.

Para Igor Fontes, mestrando de Filosofia, presente na assembleia de fundação, “os desafios a serem enfrentados nesse processo inicial seriam, acima de tudo, relativos à sua consolidação: fazer os outros pós-graduandos conhecerem a APG, estimulá-los a participarem dela, se fazer reconhecer pelas demais entidades e instâncias da vida universitária”, aponta. “A APG surge para criar uma instituição que faltava na universidade, afinal os pós-graduandos não possuíam uma representação desse tipo.  A partir dessa participação mais estruturada, organizada e democrática podemos levar, pelos canais institucionais, pautas que são de suma importância para os pós-graduandos e que beneficiariam a própria universidade, como suporte psicológico, maiores verbas para assistência estudantil e auxílio à pesquisa e à permanência na universidade”, afirma.

Para Sizinio Almeida, doutorando em Filosofia e integrante da diretoria da APG, “a importância da fundação da APG da UFS é a inserção dos alunos e alunas da pós-graduação da Universidade Federal de Sergipe na luta pelos seus direitos”. Ele conta que participou de uma movimentação anterior para a fundação da APG, em 2015, mas que neste momento não houve concretização. “Quando retornei à pós-graduação em 2019, senti a necessidade de se criar essa associação, o que se fortaleceu por causa dos cortes do Governo Federal nas bolsas. Esse sentimento de apreensão, de desqualificação da ciência, se tornou muito forte entre os pós-graduandos e foi o combustível necessário para que, através da iniciativa de outros colegas, se juntasse um grupo de alunos e alunas, resultando na fundação da APG”, relata.

Ainda segundo Sizinio, a fundação da APG está relacionada ao fortalecimento da pesquisa pública e de qualidade no Brasil. “É um processo que busca mudar a cara do pesquisador no nosso país, que é visto com extrema desconfiança. Em parte culpa da própria universidade que não se abre ao público externo, em parte por conta dos ataques sofridos por este atual governo. A Associação de pós-graduandos visa cobrir esta lacuna em nível local e nacional”, pontua.


Articulação local

Antes mesmo do dia 15 de junho, as alunas e alunos da agora APG-UFS uniram forças às demais representações atuantes na universidade, compondo então uma frente de funcionários, professores e estudantes que atuam para fortalecer a diversidades de vozes e a luta pela defesa da universidade pública e de direitos.

Em sua fala, Juliana Cordeiro, coordenadora geral do Sintufs e secretária do Programa de Pós-Graduação de Ecologia e Conservação (PPEC) desde 2007, contextualiza a fundação. “Politicamente, a constituição da APG enquanto entidade jurídica é de fundamental importância no coletivo das forças da comunidade acadêmica. No caso da UFS, temos os servidores (representados pelo SINTUFS), os professores (representados pela ADUFS) e os estudantes (representados pelo DCE). O estudante de pós-graduação estava distante da atuação política na universidade e de outras vivências acadêmicas, que são fundamentais para sua formação. Portanto, a APG tem um papel fundamental no engajamento desses alunos e na organização das suas pautas e lutas. Isso se passa em um momento muito complicado para a pós-graduação no Brasil em decorrência de uma política de desmonte da educação pública”, destaca.

Juliana lembra que os estudantes de pós-graduação da UFS tem acesso aos serviços institucionais, tais como biblioteca e restaurante, mas que, por questões jurídicas, não são contemplados com programas de auxílios da assistência estudantil. “Então, um aluno da pós-graduação em vulnerabilidade social estará sozinho e dependerá exclusivamente de uma bolsa de valor irrisório, sem aumento há anos, caso consiga”, critica.

A representante do Sintufs salienta ainda a escassez de apoio psicológico aos estudantes de pós-graduação na instituição “É importante que a comunidade tenha consciência de que o aluno da pós-graduação é um profissional que recebe remuneração em forma de bolsa para realizar sua pesquisa e, como tal, merece respeito. Ele presta um serviço à sociedade na forma de ensino, pesquisa e extensão, ao passo em que se aperfeiçoa enquanto profissional”, considera.


Articulação nacional

A fundação da APG-UFS também contou desde o início com o apoio da Associação Nacional de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos (ANPG), que reúne representações estaduais num coletivo que dialoga com o objetivo de atender pautas comuns das universidades públicas no país.

Ao longo desse processo, o braço regional da ANPG, representado pelo estudante Cássio Borges, foi fundamental para dar continuidade e culminância à fundação. Para ele, a “APG-UFS surge em um momento de necessidade histórica para os pós-graduandos, em que os direitos são atacados e bolsas cortadas. Os pós-graduandos enfrentam bastante dificuldade neste período de pandemia. Por isso a APG é tão importante: para que as lutas sejam construídas no âmbito da Universidade Federal de Sergipe, sendo imprescindível também para uma soma de sócios do movimento nacional, para que tenhamos a força de lutar contra o governo Bolsonaro e contra as medidas que vem a prejudicar os estudantes de pós-graduação de todo o Brasil”.

Flávia Calé, presidente da ANPG, compartilha do sentimento de Borges. “O desafio que a gente tem como sociedade civil organizada, mas em especial como pós-graduandos, é a necessidade de defender a democracia em nosso país, que está ameaçada por um governo de extrema direita. A democracia é um pressuposto para o desenvolvimento científico e funcionamento das universidades. Este é um tema muito caro e precisa ser uma pauta de todos os pós-graduandos brasileiros, em especial da APG da UFS, que acabou de ser criada. Outro desafio é a defesa da possibilidade de se produzir pesquisa no país. A defesa do financiamento permanente e crescente para ciência e tecnologia, a manutenção dos orçamentos das universidades em patamares crescentes. Temos um processo de desvalorização da Educação, da Universidade Pública, da Ciência. Conseguir reverter esse cenário é um papel também nosso”, opina.


A diretoria eleita da APG-UFS é composta por:

Presidência: Sizinio Lucas Ferreira de Almeida (Doutorando em Filosofia) e Ahmed Hussein El Zoghbi (Doutorando em Filosofia)

Secretaria: Victor de Souza Cardoso (Mestrando em Geografia) e Sakay de Brito Santos (Mestrando em História)

Tesouraria: Douglas Santos Nascimento (Mestrando em Economia) e Maksandro José de Souza (Mestrando em Economia)

Comunicação: Aline Braga Farias Conceição (Mestranda em Comunicação) e Nayara de Arêdes Oliveira (Mestranda em Comunicação)

Jurídico: Cinthia Almeida Lima (Doutoranda em Filosofia) e Alexis Magnum Azevedo de Jesus (Doutorando em Educação)

Secretaria de Estudos e Organização de Eventos: Hernany Donato de Moura (Doutorando em Sociologia) e Israel Jairo Santos (Doutorando em Psicologia)







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