Nota da APG-UFS referente aos processos seletivos para ingresso de estudantes de Pós-graduação na UFS no período 2020.2

        

    A Associação de Pós-Graduandos e Pós-Graduandas da Universidade Federal de Sergipe (APG-UFS), no exercício de representação legal dos estudantes de Pós-Graduação (strictu sensu e lato sensu) da UFS, na pessoa de seus representantes legais, vem através desta nota se manifestar criticamente sobre a postura de oito (8) programas de pós-graduação da Universidade Federal de Sergipe em realizar processos seletivos para ingresso de novos pós-graduandos e novas pós-graduandas para o período 2020.2, desconsiderando o atual cenário nacional assolado pela pandemia do coronavírus (COVID-19), cujas medidas sanitárias de distanciamento social modificaram a rotina de milhões de brasileiros e brasileiras.


    No início da pandemia, a maioria das Universidades Federais brasileiras, através de seus colegiados, manifestou seu entendimento pela paralisação de todas as atividades educacionais. Entretanto, principalmente nos últimos dois meses, observamos a "pressão" do Ministério da Educação para o retorno das atividades educacionais através do ensino remoto, largamente apoiado pelas instituições internacionais e pelos conglomerados do ensino privado. À semelhança do ocorrido em relação ao ensino remoto, processos de seleção para mestrado e doutorado foram iniciados e concluídos durante este momento tão delicado da nossa história. E tais processos seletivos também ocorreram e vêm ocorrendo neste período na Universidade Federal de Sergipe, que vem desconsiderando as particularidades das condições objetivas e subjetivas da população durante a crise.


    Simultaneamente a essas questões sociais, o fechamento das bibliotecas universitárias federais cria obstáculos para que aqueles que desejam participar de um processo seletivo de pós-graduação tenham acesso a livros, obras, textos etc., que possam fazer parte das referências bibliográficas de seus pré-projetos de pesquisa e/ou dos conteúdos que são cobrados nas provas. Sem a possibilidade de adquirir os livros pela compra ou ter acesso por empréstimo nas bibliotecas, grande parte dos interessados em pleitear as vagas desses processos acaba sendo desqualificada muito antes da abertura das seleções.


    Importante expor ainda que há obstáculos a esses possíveis candidatos para obterem os instrumentos técnicos necessários (computador, celulares, tablets, internet etc.) para a apresentação dos pré-projetos remotamente. Além disso, mesmo com os avanços tecnológicos no Brasil, a realidade brasileira ainda se apresenta hipossuficiente quanto à universalidade do acesso à internet, pois vivemos em um país no qual as desigualdades sociais e educacionais são evidentes e difíceis de serem contornadas de um dia para outro, sobretudo em um período de pandemia.


    Além do exposto, o isolamento social e a precarização das condições de vida também ocasionam problemas psicológicos e aprofundam ainda mais as desigualdades sociais para a produção dos pré-projetos de pesquisas.


  Diante dos fatos apresentados, a Associação de Pós-Graduandos e Pós-Graduandas da Universidade Federal de Sergipe, em consonância e com o respaldo dos discursos manifestados por diversas entidades representativas da Educação em âmbito estadual e federal, repudia veementemente a abertura e/ou continuidade dos processos seletivos dos programas de pós-graduação da UFS, feitos de forma remota durante este período – sendo realizadas, inclusive, defesas de pré-projetos nesta modalidade em alguns programas. Tal posição fundamenta-se ainda no entendimento de que tais seleções durante o período da pandemia vão de encontro ao direito de acesso universal à educação, contribuindo para uma visão mecanicista e produtivista da Ciência que ignora os direitos à equidade e à inclusão dos pesquisadores em condições de hipossuficiência social, econômica, física, mental, psicológica e emocional.


São Cristóvão, 20 de julho de 2020.

DIRETORIA APG-UFS


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